O que ele ainda não entendeu
Em um dia você é treinador do Athletic Bilbao, clube tradicional e cheio de histórias de superação e orgulho por sua região. Faz um bom trabalho, é reconhecido e passa a ser sondado por uma potência não só do futebol de seu país, mas do esporte mundial. Barcelona e Bilbao tem ideias semelhantes no âmbito político, entretanto, não confundamos isso com ideologia de jogo, pois é algo difícil engolir por ser tão inaceitável.
Cada ano que passa o futebol é mais 'resultadista', é preciso ganhar títulos para ter seu nome reconhecido. Desfrutamos de bons anos onde a magia do bom futebol era sinônimo de conquista e reconhecimento mundo afora, e isso deixou o barcelonismo afogado em um entusiasmo sem fim. Sou capaz de entender isso. Após Pep Guardiola tivemos Tito Vilanova - que Deus o tenha, Tata Martino, Luis Enrique e agora, Ernesto Valverde. Desde então, tivemos que nos acostumar a perder. Perdemos Xavi em meados de 2015. Aceitamos a hora do adeus do grande Mascherano, que com suor e sangue conseguiu escrever seu nome na história do maior de todos. Mais recentemente, Iniesta, o que mais doeu, o que mais sentiu e o que mais incendeia a nostalgia culé em dias de futebol ruim. É triste, mas a hora de Messi vai chegar. Ernesto Valverde ocupa a cadeira em uma das transições mais importantes da história do clube, acho que cabe uma reflexão.
Não sou ninguém para dizer se um profissional é bom ou ruim, mas não preciso ser um gênio para saber que o 'estilo Barcelona de ser' está sendo esmagado por esse senhor de boas intenções. Sim, boas intenções. Valverde não tem culpa, ele tem um método de trabalho conservador que faz parte da sua essência, faz parte da realidade de quem só treinou clubes de prateleiras inferiores no futebol europeu. O que esperávamos? Que ele mudasse tudo para se encaixar no nosso jeito? Sim, era o que esperávamos. Não vai acontecer. E o mais preocupante é que em caso de conquista europeia, ele se consagrará e provavelmente seguirá em 'Can Barça'. E o FC Barcelona vai assistindo passivamente a demolição de toda uma estrutura ideológica tão profundamente implantada por Cruyff e Guardiola em anos de trabalho árduo. Qual o problema se estamos vencendo?
O problemas são: não aceito me recuar para esperar o Levante tomar a iniciativa do jogo. Não aceito que o Leganés nos pressione em pleno o Camp Nou após abrirmos o placar, só porquê a estratégia é segurar o resultado. Não aceito um treinador bocejando na área técnica enquanto o time precisa de mudanças urgentes. Não aceito ser atropelado pela Roma e perceber que nada foi feito para impedir. Não aceito que um genial Lionel Messi seja obrigado a entrar em campo lesionado quando o clube gastou mais de 300 milhões de euros em dois verões. Não aceito que o comandante da renovação culé seja um homem que enxerga o futebol de uma maneira tão pequena e atrasada.
As vitórias de Ernesto Valverde jamais mudarão o fato de que ele não é treinador para o Barcelona, mas sim, provarão que ele se encaixa em uma 'Era' moderna em que tudo se baseia no cumprimento das metas estabelecidas pela planilha de Excel feita pela direção antes do início da temporada.
Desejo com todas as minhas forças a volta dos 70% de posse bola no campo do adversário, bons tempos aqueles, onde ditávamos o ritmo sem se importar com o tamanho do adversário.
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