Quando cada centavo custa uma tonelada
Saber que o ser humano tem limites talvez seja o maior empecilho para a adaptação de alguém no mundo do futebol. Antes de falar sobre o momento de Philippe Coutinho, tomo a liberdade para contar uma história para vocês:
Voltemos até julho de 2017. O Barcelona disputava a International Champions Cup nos Estados Unidos. Em meio a treinos, sessões de autógrafos e entrevistas coletivas, um boato forte vem à tona: Neymar teria aceitado uma proposta multimilionária do Paris Saint Germain e, possivelmente, deixaria o clube. O Barça venceu aquela edição da competição com ótima participação de Ney. A angústia fez parte dos meus dias naquela semana. O então camisa '11' e sua equipe seguiram para a China após o clássico contra o Madrid, que decidira a Champions Cup. Enquanto isso, em uma pequena cidade no litoral do sul do Brasil estava eu, sofrendo com uma preocupante inquietação e esperando por um anuncio oficial daquele que considerávamos o sucessor de Lionel Messi. Eu sabia o quanto aquela situação seria determinante para a temporada que estava prestes a se iniciar. Até que às 6 da manhã do dia 2 de agosto de 2017, por meio de uma notificação vinda do aplicativo do Diario Mundo Deportivo, recebo a tão esperada - ou nem tanto - confirmação: Neymar escolhera o PSG. Sendo assim, iniciava-se uma longa busca por nomes capazes de suprir àquela tão sensível baixa.
Bom, peço perdão pela redundância, mas toda essa situação está inteiramente ligada ao que vemos hoje. O peso que se escora aos ombros de Philippe Coutinho é muito maior do que a nossa mera normalidade é capaz de entender, pois agrega no mesmo fardo momentos de perda e impotência do maior clube do mundo.
Em janeiro de 2018 chega ao Barcelona um homem tido por alguns como o substituto de Iniesta; mas que por outro lado, recebera a ingrata responsabilidade de representar a verdadeira resposta à saída do compatriota cinco meses antes. Substituto de Neymar ou Iniesta? Nem quem o contratou sabe dizer. Coutinho parece ter sido o escolhido para fechar várias feridas, pois até então, Dembélé não havia justificado sua contratação. Todavia, não se pode usar o mesmo curativo em tantos ferimentos de maneira simultânea.
"Quem precisa do Neymar, o pequeno Mago chegou" - eles (eu) diziam. Proferimos, na intenção de curar nossas dores, as palavras de maior pressão para alguém que acaba de chegar a um clube deste tamanho pode receber em suas "boa vindas". Coutinho fez das tripas coração para deixar o Liverpool e rumar em direção ao grande sonho da carreira: o de vestir o azul e grená mais brilhante do planeta. Chegou, foi apresentado e ilusionou "la afición". Mas o encanto acabou aí.
Quem é Philippe Coutinho para o Barcelona? O que ele realmente representa? Às vezes penso que os 125 milhões de euros (fixos) pagos por ele apenas tentavam devolver o orgulho de um clube apunhalado pelas costas, mas que talvez tenha apenas conseguido se machucar um pouco mais. Como brasileiro, é difícil ver o que acontece com um dos nomes mais importantes do nosso futebol na atualidade, e pensar que talvez seja culpa de uma aquisição mal avaliada do FC Barcelona, não me causa uma sensação legal. No entanto, saber que se é o jogador mais caro da história do clube e que não está correspondendo à altura, não ajuda muito na evolução. Pode ser isso também. O fato é que impotência de Philippe Coutinho no Barcelona assusta, não é normal tamanha insegurança em um futebolista consagrado como ele. Na minha visão, cada passe errado e cada perda de bola é uma porcentagem da magia indo embora. Não prende, não encanta, não convence e não resolve. Por isso, é melhor nem falar dos variáveis.
No fardo carregado pelo camisa '7' se encontram: 125 milhões de toneladas e a missão inglória de assumir papéis que não poderiam contar com novos intérpretes. Coutinho não é ponta, tampouco um criador genial. Com apenas uma jogada e uma qualidade monstruosa para conduzir a bola, não é possível triunfar em Barcelona. É preciso saber o momento de tocar de lado, de não arriscar, de mesmo estando na intermediária em condições de tentar algo mais arriscado, recuar a redonda para o brilhante Ter Stegen. Isso é Barcelona! Nem sempre somos os mais verticais, mas sempre seremos gigantes em nosso próprio estilo de pensar esse esporte. E, pra ser honesto, nem todo craque se encaixa nessa ideologia.
O caminho, caso não tenhamos uma mudança drástica, parece mesmo ser um rompimento sem aviso prévio. Dormiremos com Coutinho e acordaremos com o anúncio da sua partida. Faz parte, é vida que segue.
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